Translate

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Reações Católicas ao Movimento da Reforma Protestante do Século XVI


            Quando usamos o termo Reforma Protestante estamos nos referindo ao maior movimento de reforma religiosa cristã ocorrido na Europa no período de 1500-1700 e que redesenhou completamente o mapa da cristandade mundial.
            Este movimento reformador que eclodiu no século XVI ainda hoje continua sendo sentido na existência de diversas denominações evangélicas oriundas diretas deste movimento que saindo da Europa se estabeleceram nos Estados Unidos e posteriormente foram implantadas nos mais diversos países, incluindo a América Latina e mais particularmente o Brasil.
            Advindas do denominado protestantismo histórico temos no país seus principais ramos como o presbiterianismo, metodismo, congregacionais, luteranos e metodistas, e ainda que não gostem de serem incluídos, os batistas.
            Mas o movimento da Reforma Protestante não apenas deu origem a estas diversas, e muitas outras, denominações evangélicas cristãs, como também acabou produzindo reações e transformações no próprio catolicismo romano, que teve que procurar se ajustar à nova realidade de seu domínio religioso que se fragmentava rapidamente. Portanto, as reações católicas são muito mais no sentido de não perder completamente seu monopólio do cristianismo, do que propriamente uma preocupação reformista de suas práticas cristãs à luz das Escrituras.
           
Introdução
            Por um milênio (500-1500 d.C.) a Igreja Católica Romana estendeu seu pleno domínio sobre tudo e sobre todos sem qualquer questionamento sobre sua autoridade. Neste período todos os focos ou tentativas de questionamento foram completamente dizimados sem dó ou piedade.
            Sem contar o denominado Grande Cisma (1378-1417) que separou o cristianismo do Oriente do Ocidente, somente no século XVI com a eclosão da chamada Reforma Protestante de fato ocorre uma grande ruptura nas entranhas do catolicismo romano.
            Mas somente quase vinte anos depois de iniciado o movimento reformado a Igreja Romana esboçou uma reação interna para conter o avanço e consequente desmanche produzido pelo impacto reformista protestante.
            Ainda que questionado e até rejeitado por muitos historiadores romanos esta reação da Igreja Romana é comumente denominada de Contrarreforma. Seu objetivo imediato era reassumir o controle sobre o cristianismo europeu. De imediato recupera a maior parte da Polônia e Áustria, partes do sul da Alemanha, bem como a manutenção da Bavária, Bélgica e Irlanda sob seus domínios.
            Essa reação do catolicismo romano foi bem-sucedida por algumas razões:
1) os diversos movimentos reformistas abriram mão precocemente de seu entusiasmo evangélico e/ou reformista.
2) e certamente um dos mais graves, o desenvolvimento de um espírito polemista agressivo e beligerante que contagiou praticamente todos os segmentos reformistas, que em pouco tempo estilhaçou qualquer possibilidade de uma unificação do movimento.
3) O catolicismo com sua figura catalizadora do Papa manteve seu sistema organizado, mesmo em meio ao movimento reformador.
4) A Igreja Romana se apropriou do espírito reformador para implementar sua própria reforma interna (cf. abaixo).
            Ao expor as entranhas do catolicismo, o movimento reformado acaba por exigir das lideranças católicas romana uma resposta às mais diversas críticas recebidas. De fato, houve uma substancial reforma no clero romano, especialmente na Espanha, todavia, praticamente não se mudou praticamente nada nas questões doutrinárias do catolicismo, perpetuando todos os seus desvios do cristianismo bíblico.
            Para coibir a proliferação dos conceitos teológicos-reformados, através da crescente produção de literatura de Lutero-Calvino e tantos outros proeminentes teólogos reformados, a Igreja Católica criou o “Index”, espécie de catálogo que listava os livros que estavam vetados/proibidos aos seus membros lerem.
            Outra reação do clero romano foi a reativação do conceito medieval da Inquisição. Todos os que ousassem proferir conceitos reformistas ou não católicos foram cruelmente torturados e mortos pelos tribunais inquisidores. Essa horrenda prática foi bem-sucedida na Itália e Espanha e relativamente sucedida em outros domínios católicos, incluindo Portugal. Mas outros países, como por exemplo a Holanda, apesar de terríveis perseguições, os inquisidores foram frustrados e posteriormente o movimento protestante acabou prevalecendo nos países baixos.
Jesuítas
            Mas com toda certeza, a mais bem-sucedida reação do catolicismo romano foi a criação da ordem dos Jesuítas. Tendo recebido a denominação de Sociedade de Jesus, eles foram originados em Paris em 1534 por Inácio Loyola, tendo como prioridade máxima reinserirem as pessoas na Igreja Católica Romana.
            Para alcançar seus objetivos fins utilizaram-se de todos os meios disponíveis sem quaisquer escrúpulos em seus métodos – aplicando o conceito de que os fins justificam os meios.
            Atuaram fortemente na questão educacional para barras as influências dos reformados nesta área; influenciaram e usufruíram do poder político para impor avanços na manutenção e avanço da causa romana; um dos mais famosos foi Francis Xavier (1506-1552) que propagou a fé cristã jesuíta por toda Ásia. Afirmara que na Índia e Japão havia batizado pelo menos 700.000 convertidos. Suas práticas sincretistas ao extremo nunca foi autentica pela cúria romana, mas que também jamais a repudiou abertamente. Os jesuítas foram ativos também tanto na América do Norte quanto na América do Sul. Aqui no Brasil, por causa da chamada reforma Pombalina, que expulsou a ordem dos jesuítas de todos os domínios portugueses, a influência deles foi minimizada, o que acabou favorecendo posteriormente a implantação menos traumática do protestantismo no país nos finais dos oitocentos.
            Mas como diz o ditado - o poder corrompe – a influência dos jesuítas tornou-se tão grande e suas metodologias tão imorais que ameaçaram o próprio catolicismo, de maneira que o Papa Clemente XIV aboliu essa ordem religiosa. Somente após um período de quarenta anos, em 1814, o Papa Pio VII, em nova reação às perdas de seus fiéis, restaurou os jesuítas à sua posição.
Concílio de Trento
            Esse Concílio, que se reuniu ao longo dos anos de 1545 a 1563, sob a direção de pelo menos três papas, com um total de 25 sessões deliberativas, foi a grande resposta doutrinária do catolicismo, frente ao movimento reformado. Emergiu deste Concílio a nova ortodoxia católica que deveria ser ensinada e exigida de todos os seus professantes.
            Podemos citar aqui algumas destas diretrizes teológicas:
1)    A Vulgata Latina deve ser a Bíblia autorizada para todos os católicos;
2)    Os chamados livros apócrifos foram ratificados como inspirados e parte integrante da Bíblia católica;
3)    O conceito de purgatório foi mantido como tendo respaldo bíblico;
4)    A tradição da Igreja foi mantida como tendo valor em igual autoridade com as Escrituras;
5)    Foi mantido o valor de imagens, relíquias e indulgências;
6)    Todo católico deve aceitar somente a interpretação da Escritura dada pela Igreja;
7)    Manteve-se a necessidade dos sacramentos para a verdadeira salvação;
8)    Foi ratificada a autoridade do papa sobre a Igreja.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Reflexão Bíblica
http://reflexaobiblica.spaceblog.com.br/

Artigos Relacionados
REFORMA RELIGIOSA: Por que Ocorreu no Século XVI
PERSONAGENS DO PROTESTANTISMO – Zwinglio o Exegeta (1484-1531)
PROTESTANTISMO - A Reforma na Inglaterra - Henrique VIII
PROTESTANTISMO NO BRASIL: Primeiros Contatos e Abertura
PROTESTANTISMO NO BRASIL: Primeiras Aberturas Legais