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sábado, 23 de novembro de 2013

IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO PRESBITERIANISMO EM SÃO PAULO

A cidade de São Paulo já demonstrava seu potencial econômico e sua força no desenvolvimento político do país no inicio do século XIX. Neste período a cidade experimentava um crescimento populacional e material bastante expressivo, iniciando um processo de urbanização que haveria de se intensificar cada vez mais.
O novo momento de São Paulo não tinha nada a vê com seus primeiros anos, quando, depois ter sido fundada, em 1554, permaneceram três longos séculos à margem da economia colonial e imperial. Isolada no alto da Serra do Mar, a vila, que só se tornou cidade em 1711, havia sobrevivido todo esse tempo da lavoura de subsistência, da escravização de índios e das expedições bandeirantes. (ARAUJO, 2006, p. 11). Ainda que tenha sido a capitania hereditária responsável pela expansão territorial e o povoamento de quase todo o interior do Brasil.
A causa primária do deslocamento econômico e político do Rio de Janeiro, até então capital do Império, para São Paulo foi sem duvida alguma o desenvolvimento do setor da industrialização do café no Oeste paulista e suas inovações no setor de comercialização do produto. A riqueza gerada pelo “ouro verde” conforme ficou denominado o café, alavancou a acelerada urbanização e a industrialização da cidade.
A partir da década de 1870,[1] São Paulo tornava-se um lugar privilegiado das transformações socioeconômicas, urbanísticas, físicas e demográficas. Bem no meio da prosperidade crescente da lavoura cafeeira e das tensões ligadas à crise final da escravidão no país, a cidade se transformava de forma acelerada na “metrópole do café”. Todo esse conjunto de fatores implicou, por sua vez, em alterações profundas nas funções e espaços da cidade, em favor de um maior controle e racionalização, de modo a assegurar para São Paulo o importante status de entreposto comercial e financeiro privilegiado para as relações entre a lavoura cafeeira paulista e o capital internacional. (LEMOS, 1989, Apud HENRIQUES, 2011, p. 364) [2]
As linhas férreas, que ligavam o interior da província ao porto de Santos, por onde escoavam as safras, e posteriormente expandiram-se por todo o Estado[3] tornaram-se rotas e lugares estratégicos para se propagar a mensagem evangélica e estabelecer as novas denominações protestantes, conforme indicado anteriormente neste trabalho.
Deste modo, São Paulo vai ocupando um espaço cada vez maior no destino da nação, como marco do tão desejado progresso. Em consequência ocorre uma reestruturação do poder, o que vai resultar no surgimento de tendências mais radicais que propunham a autonomia das províncias como solução para os muitos conflitos que insurgiam continuamente. Segundo Emília Viotti Costa os prósperos agricultores desta região oeste de São Paulo é um representativo desta postura: 

O caráter pioneiro, a mobilidade social, a prosperidade crescente favoreciam a difusão das ideias novas, desde que elas significassem uma promessa de satisfação dos anseios dos novos grupos e a possibilidade de ampliar a ação e o domínio. A ideia republicana oferecia essa perspectiva aos fazendeiros do Oeste Paulista que se sentiam lesados pelo governo imperial e que desejavam não só obter maior autonomia, como imprimir à vida econômica e política da nação as suas próprias diretrizes (1999, p.481).
Acredito que este espírito de autonomia e independência permeou logo cedo os jovens pastores presbiterianos nacionais, conforme os eventos sucessivos haverão de revelar.
Os primeiros missionários que passaram pela cidade de São Paulo, como Kidder e Fletcher, conforme citados em artigos anteriormente, já pressentiam o grande potencial dela como importante na estratégia para o desenvolvimento do protestantismo no Brasil.
Tendo conhecimento destas informações sobre o potencial da cidade, bem como da boa receptividade para com a mensagem evangélica protestante, Simonton ainda em seus primeiros esforços missionários, empreende uma primeira viagem a São Paulo, conforme indica em seu registro do diário – São Paulo, 30 de dezembro de 1860 (Hotel da Itália): 

[...] Desde que cheguei aqui tenho-me alegrado na expectativa de encontrar um campo para pregação do Evangelho nesta cidade. [...] Já fiz todas as indagações possíveis; a maioria das opiniões é favorável à realização da tentativa, mas só se pode adquirir certeza experimentando. [...] Creio que se deve tentar. Se orando pela direção divina, minha opinião persistir, esforçar-me-ei para dar inicio ao trabalho. O clima aqui é bastante agradável e o custo de vida muito menor. Caso pudéssemos ocupar dois pontos, não hesitaria em estabelecer um em São Paulo, pois assim poderíamos também aproveitar a mudança de clima. [...] (RIZZO, 1962, p. 73).
Mas coube ao Rev. Alexander L. Bleckford a iniciativa pioneira de implantar e desenvolver o presbiterianismo na cidade paulistana. Após o retorno de A. G. Simonton dos Estados Unidos em 16 de julho de 1863, o reverendo Blackford recebeu autorização da Junta Missionária Norte Americana para dar início ao trabalho missionário na Província de São Paulo.[4]


Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Reflexão Bíblica
http://reflexaobiblica.spaceblog.com.br/


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______________
[1] A cidade de São Paulo em que D. Pedro I se hospedou e que foi palco da proclamação da Independência do Brasil,  na descrição do historiador Afonso A. de Freitas, era tão somente: "...uma pequena cidade, quase aldeia, acanhada e de ruas pouco extensas, estreitas e tortuosas. Abrigava na área urbana somente 6.920 habitantes e incluindo sua zona rural não ultrapassaria 20.000 moradores. Desde esta época a cidade revela sua vocação para participar dos grandes momentos da História do país, com sua elite provinciana orgulhosa que, "apesar do isolamento, acompanhava com interesse as grandes transformações na Europa e nos Estados Unidos. ....os paulistas do começo do século 19 estavam longe de serem todos matutos ou caipiras." (GOMES, Laurentino. 1822 - como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil - um país que tinha tudo para dar errado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010, p. 103). 
[2] Maria Lucília Viveiros Araújo em seu excelente livro “Os caminhos da riqueza dos paulistanos na primeira metade do Oitocentos” (2006), a partir de sua tese de doutoramento, orientada pelo Prof. Dr. Nelson Hideiki Nozoe, reformula o mito da pobreza paulistana na primeira metade do século XIX, pois segundo ela o ciclo do açúcar também se fez acompanhar de uma série de atividades econômicas complementares e paralelas gerando riqueza e progresso. Herança da historiografia tradicional, esse mito, que prevaleceu até a década de 1960-70, costumava opor a pobreza paulistana à opulência trazida com o boom do café, sugerindo a existência de um corte profundo entre os dois ciclos.
[3] “O fenômeno das estradas de ferro foi sem dúvida o mais importante, do ponto de vista da irradiação de um certo padrão de vida urbana, de capitalização e de articulação do resto da Província com São Paulo e com os principais centros mundiais. Dele participaram capitais internacionais, mão de obra nacional e de imigrantes, além de iniciativas das lideranças locais. A Companhia Paulista (empresa brasileira particular), ligando a São Paulo as cidades de Jundiaí, Campinas, Limeira, Rio Claro e Descalvado; a Companhia Ituana, chegando a Piracicaba; a Sorocabana, em direção a Sorocaba, Ipanema e Tietê; a Mojiana, abrangendo de Campinas a Mogi-Mirim, Amparo, Casa Branca, Ribeirão Preto e Poços de Caldas (incorporando o Sul de Minas à esfera econômica de São Paulo) demarcariam o novo sistema econômico-social, com fortes implicações políticas regionais e nacionais”. (MOTA, 2004, p. 14)
[4] Desde o primeiro momento outros dois nomes estão vinculados diretamente a implantação e desenvolvimento do presbiterianismo em São Paulo e outras cidades do interior e do litoral paulista, são eles Francis Joseph Christopher Schneider, alemão de origem, mas naturalizado norte-americano, e que se tornou o terceiro missionário presbiteriano no Brasil e George Whitehill Chamberlain que visitando o Brasil e tomando conhecimento do trabalho realizado por Simonton e Blackford sente-se compelido a permanecer e participar desta obra, e posteriormente sua esposa Mary Ann Annesley.

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